Ela [2]: Medo do Quarto Escuro
MEDO DO QUARTO ESCURO
Ele teve medo do quarto escuro … foi hilariante.
Quando mais o empurrava, mais ele se debatia.
“Que horror … nao vejo nada … e se um homem me apalpa? Achas que eu gosto de qualquer mulher?
Qualquer matrafona?”
Eu insisti … “Eu acho graça … sentir mãos por todo o lado, e não saber quem é nem como é … a sublimação do tacto, do sentir, do prazer inconsequente”.
Muito contrariado, ele lá foi, comigo, mão na mão, em estado de pânico total.
Lá no escuro, no muito escuro, as tais muitas mãos, e as minhas.
Procurei-o e encontrei-o. [Mais tarde vim a saber que não era ele … pois ele tinha fugido … palerma!]
Estava calmo. Delirante. Entre duas mulheres. Deixei-o saborear.
Mais mãos, sôfregas por texturas, sons e humidades.
Um par de mãos supreendeu-me. Um homem, sentado, [sentado? quem diria que naquele local haveria lugares sentados …] que desde o primeiro toque me incendiou os sentidos.
Percorria-me o corpo, com as duas mãos, absolutamente sincronas. Paralelas. Quase em câmara lenta.
E saboreava cada curva dos ombros, cada saliência do peito, cada contorno da cintura, do rabo, de tudo, com a pressão perfeita.
Surpreendida, imitei-o —enquanto tinha discernimento — com a vizinha do lado. Acho que ela gostou. Porque se eu estava a gostar, ela também devia estar a apreciar …
Ousei um pouco mais com ela, pois melhor que os homens, nós mulheres sabemos aquelas pequenas coisas, detalhes com toda a importância, que por muito que contemos aos homens eles insistem em não dar atenção.
Estranhei-me. Tocar noutra mulher? E de forma tão intima?
O meu homem das mãos excelentes tirou-me do serio.
De mais nada me lembro senão lhe ter agradecido, tal como uma stripper após uma lap dance, com um beijo na cara e um sincero “obrigada”.
Ele, cá fora esperava-me. Ansioso. Arrependido. Via entrar mulheres lindas, autenticas modelos, aos magotes.
Não foi difícil empurrá-lo de novo para a escuridão. Esperei-o. Fumando um merecido cigarro. Voltou com um sorriso de orelha a orelha: “Foram três”.
Saímos, abraçados, contando histórias um ao outro, rindo que nem uns malucos.